Yeah! Como prometido, estou trazendo capítulo novo da Doença de LOL, a história baseada no jogo ruim feito pelo Grupo Oficialmente sem Nome, ou GON. Fazem quantos anos?
Não postei semana retrasada pois estava viajando e semana passada porque estive doente. Apesar disso consegui escrever bastante, como vocês podem ver aqui.
Como faz muito tempo, eu tive que reler tudo e rejogar o jogo (que, a propósito, é bem ruim e quase dá vergonha) para continuar a escrever isso aqui. Como vocês não tem a obrigação de lembrar de nada (nem eu lembrava mesmo), deixei aqui algumas explicações e uma recapitulação de tudo que aconteceu até agora. Ela é mais opicional do que qualquer coisa.
Relendo as postagens anteriores, não sei porque eu fiquei tão estressado comigo mesmo pra terminar esse troço e querer fazer sempre melhor e coisa do tipo. Quero dizer, isso é apenas DLOL, uma história descontraída e idiota com o intuito de ser descontraída e idiota.
- Explicações:
Isso aqui é outra versão da Doença de LOL que não deve ser visto como uma adaptação fiel ao jogo. Essa versão conta com mais diálogos, mais descrição e maior caracterização dos personagens. Essas basicamente eram coisas que faltavam no jogo mas que eu gostaria mesmo que estivessem por lá. Basicamente esse foi o motivo principal para começar a escrever.
Além disso, as diferenças entre as duas versões são, mas não se limitam a:
- As lutas não são em turno (duh) e não temos termos como HP e MP por aqui.
- Side Quests não essenciais não foram incluídas.
- Alguns personagens do jogo não aparecem aqui.
- Existem locais e acontecimentos que aqui são retratados mas que não estão no jogo.
- Recapitulação:
Estamos acompanhando a história de Rodolfo Crazyson, um morador da Ilha, mais especificamente da Cidade Onde Você Começa. Após sair de casa para matar aranhas na Floresta Primária (e comer sanduíches feitos delas), Rodolfo chega em casa e encontra uma mensagem na garrafa. Ele vê apenas lixo e joga a garrafa pela janela, acertando um rapaz de cabelo roxo. A pessoa abre a garrafa e espalha pela vila uma doença misteriosa, que faz com que os moradores só consigam falar lol e derivados. Rodolfo pega sua espada e seus sanduiches de aranha e vai embora.
O destino mais próximo foi a vila de Arenosa, mas as macumbeiras de lá não puderam fazer muita coisa por ele. Rodolfo ajudou a vila derrotando o grupo de bandidos que estavam roubando a vila. Criou uma rivalidade/inimizade com Beth, o líder dos bandidos.
Logo após isso, ele se dirigiu para o ponto mais alto da Ilha: a Monstanha. No Caminho para Monstanha, Rodolfo conhece Florisbelo Margarido, um garoto (?) que se diz uma planta. Ele possui o estranho poder de falar com as árvores e saber o quão forte os monstros são. Os dois derrotam um monstro que aterrorizava os bosques e seguem juntos para dentro da Monstanha.
No caminho, antes de chegar na Vila da Monstanha, Rodolfo conheceu um velho imponente que estava atrasado para a festa junina.. Também enfrentou morcegos, esqueletos e aranhas gigantes. Se machucou bastante no processo. Na vila, Rodolfo ganhou roupas novas e reencontrou com o misterioso Josefo, mendigo na Cidade onde Você Começa.
Para chegar ao topo, eles tiveram que passar pela Caverna Plantosa, onde foram atacados por plantas carnívoras e cogumelos gigantes. Lá conheceram Windo, um espírito do vento que foi soprado para aquela caverna e que gostava muito de sua capa preta. Rodolfo teve problemas para enfrentar o monstro guardião da caverna (uma planta gigante em forma de dragão) mas obteve sucesso após liberar se potencial máximo.
Finalmente chegaram ao seu objetivo: o velho Mons, senhor da Grande Monstanha. Apesar de poderoso e insano, Mons não tinha a cura para a doença, mas profetizou que Rodolfo iria encontrá-la em breve. Depois, empurrou Rodolfo e Florisbelo Monstanha abaixo, mas estes foram salvos por Windo.
Após uma noite de descanso, o grupo se dirigiu para a Cidade Raimunda, ali próxima. A cidade estava em chamas, atacada por rosquinhas gigantes carnívoras que Rodolfo não conseguia derrotar. Após investigarem um pouco, descobriram que a culpa era de Feitinilda, uma feiticeira (vulgo macumbeira) cujas rosquinhas se transformaram após uma poção feia por ela ter dado errado. Após coletarem ingredientes, Feitinilda criou uma poção para criar um portal negro no estômago de Rodolfo e dar a ele uma fome infinita. Ele devorou as rosquinhas, salvando a cidade. Feitinilda se junta ao grupo e eles partem para o lado leste da Ilha.
Capítulo 7 - Pergunte Antes do UrsoApós saírem da Cidade Raimunda, o grupo então foi seguindo para leste em busca de ajuda. A próxima parada seria Folheosa, a cidade dentro da floresta. A esperança era de que os conhecimentos de natureza do povo local permitisse a elaboração de uma cura para a Doença de LoL. A caminhada até decidirem parar havia durado poucas horas, mas parecia ter se passado anos desde o episódio das rosquinhas assassinas em Raimunda.
Florisbelo estava animado desde que soubera que agora iriam entrar na floresta. Nunca havia saído do pequeno bosque em que morava, e estar em um local com tantas árvores diferentes era algo especialmente excitante para ele. Por conta disso, ele insistira para que parassem vez ou outra para que ele pudesse conversar com a natureza, o que fez com que o resto do dia se tornasse uma sucessão de paradas e de conversas silenciosas. Feitinilda logo se irritara com as paradas constantes, mas Rodolfo não viu problema em deixar o amigo fazer o que queria um pouco, decisão que não demorou muito para se arrepender.
Após o cair da noite o grupo resolveu parar. Rodolfo estava faminto, sentindo como se estivesse de jejum invés de ter devorado um exército de rosquinhas no almoço e por isso resolveu sair para caçar. Feitinilda acendeu uma fogueira com um feitiço enquanto Florisbelo conversava com a natureza, sentado de pernas cruzadas com os olhos fechados e o sorriso no rosto. A garota, incomodada com o rapaz, pôs fogo no arbusto que cobria o corpo dele. Como ele não expressou nenhuma reação, ela acabou apagando a chama antes que algo ruim acontecesse. Depois disso, ficou emburrada o resto do tempo de espera.
Rodolfo voltou meia hora depois, carregando um urso nas costas. Feitinilda observava com admiração Rodolfo cortando agilmente pedaços do urso e selecionando o que seria assado. Apesar disso, preferiu não comer o assado e se contentar com algumas frutas colhidas pelo caminho.
Na hora de dormir, Feitinilda se surpreendeu com o fato de que os garotos iriam dormir no chão mesmo. Disse que era sorte deles que ela sabia um feitiço de conjuração de colchão e que era mais sorte ainda de Rodolfo o fato dela fazer surgir um colchão de casal para eles. Florisbelo ficou no chão mesmo.
O trio dormiu bem rápido, indiferentes aos perigos da floresta.
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Rodolfo acordou se sentindo estranho. Seu estômago doía, não conseguia mover o braços e parecia não estar mais no colchão com Feitinilda. Além disso, estava bem mais quente do que no dia anterior. Com um bocejo, ele lentamente abriu os olhos.
Ele realmente não estava mais no colchão com Feitinilda. Na verdade, não estava deitado e muito menos na mesma clareira que estivera na noite anterior. Estava no meio de uma cidade, cercado de índios de camisas e cabelos coloridos. Rodolfo estava amarrado ao lado de Feitinilda em uma estaca de madeira acima de uma fogueira acesa, com a diferença que ela estava com a boca fechada por fita isolante e ele não. A frente deles e no centro, Florisbelo e um índio gordo de cabelos vermelhos e camisa rosa os encarava com olhar sério.
- Zaf opmet euq oãn somamieuq segereh, ossi iav res oditrevid. - disse o índio, sorrindo levemente.
- Quê?! - gritou Rodolfo, em espanto.
- Você cometeu um erro, Rodolfo. - falou Florisbelo, que se mantinha tranquilo ao lado do índio gordo.
- Ter comido urso estragado? Isso eu já percebi, minha barriga ta doendo pra caramba.
- Ele oãn avatse odagartse! - gritou o índio, revoltado.
- Você ofende a cultura local, Rodolfo, e a cada palavra só piora a sua situação! Aquele urso que você comeu não era estragado, era sagrado
- Por que ninguém me avisou disso?
- Estava escrito nas costas do urso, Rodolfo!
- Ah... Me diz, por que Feitinilda ta presa e você não? Fui o único que comi.
- Ela utilizou feitiços contra os nativos que queriam justiça. Eu não fiz nada e além disso eles me respeitam por ser uma árvore.
- A aemêf mébmat agap alep aisereh od memoh.
- Tem isso também, mas eles não são um casal.
- Oirés? Sele oãs sohnitinob sotnuj.
- O que ele ta falando?
- Que vocês formam um casal bonito.
- Eita. Nunca ninguém me chamou de bonito.
Florisbelo suspirou.
- Rodolfo, você entende o que vai acontecer agora?
- Vamos ser comidos porque eu comi um urso?
- Bem... sim. Até que você pegou rápido a situação.
- Zevlat oãn ajes oãt orrub.
- Talvez. De qualquer forma, eu conversei com o pajé e ele concordou que tem uma coisa que faria eles não devorarem vocês. Eles disseram que tem uma fonte de energia maligna aqui perto que precisa ser eliminada. Acredito que seja algum monstro.
- Ah, isso é fácil! Pode deixar comigo.
- Bom, vocês ouviram o homem.
Dois índios foram até o grupo e soltaram eles das estacas. Rodolfo foi completamente desamarrado, mas Feitinilda continuou amarrada e com a fita isolante na boca.
- A Feitinilda vai ter que ficar assim pra prevenir que não use nenhum feitiço hostil enquanto estiver na vila. - disse Florisbelo, logo depois se virando para o índio gordo. - Acho que vou com eles, Éjap Oãrog. Apesar da heresia, Rodolfo é meu amigo.
- Orepse euq abias o euq átse odnezaf, Florisbelo.
- Eu também.
- Aob Etros.
Florisbelo novamente se virou para Rodolfo e Feitinilda.
- Vamos, temos que descer se quisermos encontrar a tal energia maligna.
Dizendo isso, virou-se para leste e foi guiando os dois prisioneiros para a tal fonte de energia maligna. Diferente de Arenosa, lá do outro lado da Ilha, Folheosa não terminava em uma praia. Invés disso, precipícios separavam a vila do oceano abaixo. Feitinilda olhava com um misto de apreensão e ódio para Florisbelo conforme eles se aproximavam do que seria uma queda iminente.
No fim eles acabaram não dando mais do que poucos passos. Embaixo deles o chão se abriu dando lugar a um enorme buraco escuro e profundo. Com um grito de Florisbelo e um gemido de Feitinilda, que tentava desesperadamente se soltar, os três caíram.
- Ha. Iceuqse ed rasiva ad asson ahlidamra artnoc serosavni. - disse o índio obeso de cabelo vermelho, que ficou um tempo quieto antes de voltar a falar - Éta euq iof mob, aleuqa erovrá avat em odnad soiperra.
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Florisbelo gritava de susto e medo. O trio caia por um túnel rochoso que ia em direção a um desconhecido destino subterrâneo. Girando no ar, Florisbelo viu que estavam prestes a se choca com um chão de pedra brilhante. Ele fechou os olhos e intensificou o grito, sem ter como impedir a queda.
Mas o choque nunca aconteceu. Ao contrário, o grupo foi desacelerando cada vez mais, até pousar delicadamente no chão. Windo surgiu no meio deles, em sua capa preta.
- Agora minha dívida está quase paga.
- Valeu, Windo! Pensei que dessa vez a gente morria. - disse Rodolfo, com um sorriso tranquilo.
- HMM!! - Feitinilda continuava amordaçada. Com um movimento rápido da espada, Rodolfo cortou as amarras da mão e da boca da garota, que logo fitou Windo e se pôs a falar.
- Isso ai é um espírito do vento?
- É sim. - respondeu Rodolfo, quase de imediato. - Ele tem uma dívida comigo e sempre me salva quando pode.
- Ah, ainda bem. Se não já ia sobrar pra ele.
Dito isso, virou-se para Florisbelo com os olhos repletos de cólera e com bolas de fogo nas mãos.
- E então, garoto-árvore, qual a desculpa para ter traído a gente, me amarrado em um tronco, tentado nos devorar e nos atirar num buraco? E é melhor que seja boa, porque agora estou querendo descontar tudo que não pude enquanto estava amarrada.
O garoto foi dando passos para trás, assustado quando algumas de folhas que vestia começavam a pegar fogo.
- C-calma! Tudo que eu fiz foi usar minha influência como árvore para prevenir que eles os matassem na hora! E eu nem sabia desse buraco!
- Me engana que eu gosto. - falou enquanto avançava.
- Para com isso! Deixa o Florisbelo.
Rodolfo pôs uma mão no ombro de Feitinilda, que apagou as chamas e se virou para o garoto loiro, surpresa.
- Até agora ele nunca mentiu pra mim e sempre ajudou. Então eu confio nele, é uma boa pessoa. Ou árvore. Ainda não entendi direito.
- Bom, eu não confio! - dizendo isso, pulou em Rodolfo e se pendurou em seu pescoço. - Mas já que estamos aqui porque você é incrível e faz com que espíritos tenham dívida de vida, eu confio em você.
Florisbelo suspirou, tirando as folhas queimadas do corpo.
Ninguém merece...O grupo enfim parou para observar os arredores.Como Florisbelo já havia notado, o chão era brilhante. O que ele não havia notado era que as paredes e o teto também eram brilhantes e feitas todas de uma espécie de cristal púrpura. As superfícies eram tão lisas e límpidas que os quatro viam-se refletidos varias vezes pela caverna. O lugar parecia ter uma luz própria saindo das paredes.
- Acho que vou acompanhar vocês dessa vez. - disse Windo. - Esse lugar é mágico demais pro meu gosto, as coisas podem ficar meio imprevisíveis.
- Ta com medo do quê? A gente pode pedir informação daquele garoto ali.
Rodolfo apontou para uma parede da caverna, onde, realmente, parecia ter um garoto em pé olhando para eles. Ao receber o olhar dos quatro, se sobressaltou e deu um passo para frente. Foi ai que eles perceberam que o garoto estava
saindo da parede.
Subitamente, outros foram saindo da parede. Vários seres de tamanho parecido com o de crianças, mas feitos de pedaços irregulares de cristal púrpura, caminhavam e saltavam em direção ao grupo com sorrisos feitos de rachaduras.
- Olha só, ele até chamou os amigos pra brincar com a gente!
- Tem certeza? - perguntou Feitinilda, preocupada.
- Tenho!
Algumas crianças de cristal apontaram os braços para eles...
- Rodolfo, eu acho que não. - falou Florisbelo, apreensivo.
... e atiraram cristais pontudos.
- Mas eles estão até brincando de arremesso!
- Rodolfo, eles estão atacando a gente!
- Nem parece.
- Rebate! - gritou Florisbelo enquanto tampava o rosto com os braços e fechando os olhos.
- Ah, isso eu posso fazer!
Brandindo a espada, Rodolfo rebateu ao mesmo tempo todos os cristais lançados, que voltaram nas crianças de cristal e as derrubaram no chão, com pedaços de seus corpos voando pela sala.
- E-ei! - Rodolfo se sobressaltou - Você me fez matar eles!
- Rodolfo, eles não são pessoas. - se manifestou Windo - São criaturas mágicas que foram corrompidas.
- Mas parecem...
Novamente, as crianças de cristal atiraram seus projéteis no grupo.
- Rodolfo, você está pensando demais! Só luta! - gritou Florisbelo.
- Para de gritar com o Rodolfo! - respondeu Feitinilda, novamente se enfurecendo com Florisbelo.
- Hoje já disseram que eu penso e que sou bonito... Não to entendendo mais nada.
Dito isso, utilizou a espada para se defender habilmente dos cristais. Em seguida saltou e desferiu golpes rápidos e consecutivos nos oponentes, que em poucos segundos foram reduzidos a pilhas de cristais púrpura brilhante. Feitinilda, animada como sempre com as façanhas de Rodolfo, saltou em meio aos cristais com um sorriso no rosto levemente avermelhado.
- Incrível como sempre, meu benzinho!
Mas o garoto não sorriu de volta. Invés disso, olhava pensativo para a espada. Percebendo o rosto triste de Rodolfo, Feitinilda seguiu o olhar dele e pôde perceber que a espada se encontrava rachada em vários pontos. Parece que a dureza do cristal havia sido demais pra ela.
- Justo minha espada nova...
- Rodolfo, não fica assim. Quando a gente sair daqui, vou preparar um feitiço que vai deixar a espada novinha em folha! - foi o bastante para fazer ele levantar o rosto e olhar surpreso para a garota. -
E com um pedacinho da sua alma consigo até deixar ela mais afiada.- Puxa, sério? Dá pra consertar?
- Sim!
Claro que pode demorar pra conseguir os materiais e eu vou ter que extorquir alguns índios, mas...Rodolfo abriu um largo sorriso.
- Valeu, Feitinilda! - ela imediatamente ficou vermelha e desviou o olhar - Você é gente boa mesmo!
Enquanto isso, alguns metros à frente, Florisbelo e Windo haviam se adiantado e agora tateavam as paredes lisas e brilhantes. Bom, Florisbelo tateava enquanto Windo voava ao redor dele.
- Tem que ter alguma passagem por aqui...
- Rodolfo tem esse dom de atrair as pessoas, não é? - disse Windo, pela primeira vez tentando puxar assunto.
- Hum? É, acho que sim. - respondeu Florisbelo, focado em cutucar a parede. Até pensou em responder algo a mais, mas antes que pudesse fazê-lo caiu dentro da parede e desapareceu. Windo girou no mesmo lugar enquanto pensava no que fazer, mas antes que tomasse alguma decisão a cabeça de Florisbelo surgiu de volta.
- Pessoal, venham pra cá! Vocês nem imaginam o que tem aqui!
Rodolfo e Feitinilda quase caíram para trás ao verem a cabeça de Florisbelo saindo da parede e os encarando.
- Pegaram o Florisbelo!
- O quê? Não pegaram não! Isso aqui é um tipo de portal! Venham pra cá, vocês não vão acreditar no que tem aqui desse lado!
Windo atravessou imediatamente o portal, junto com a cabeça de Florisbelo, que voltou para se juntar ao corpo do outro lado. Os outros dois correram para lá e pularam na parede.
O outro lado era realmente impressionante. Agora estavam em uma floresta feita inteiramente daquele mesmo cristal púrpura, que agora imitava a forma de árvores, arbustos e flores por todos os lados. Florisbelo e Windo esperava um pouco a frente, em um círculo de flores de cristal.
- Parece bastante com Folheosa. - observou Feitinilda, enquanto caminhava olhando impressionada para os lados.
- Não só parece com Folheosa, como é Folheosa. Essa aqui é uma réplica perfeita da floresta que está acima de nós. - disse Florisbelo, orgulhoso de sua percepção vegetal.
- Essas crianças de cristal sabem fazer umas coisas bacanas. - comentou Rodolfo.
- Duvido que isso tenha sido obra delas, Rodolfo. - respondeu Windo - Como eu comentei antes, esse lugar é bem mágico. Cada cristal é uma fonte única de magia, e as vezes a magia se comporta de maneiras inusitadas. Esse lugar devia ser tão vazio que a magia resolveu manipular os cristais para assumir formas iguais as lá de cima. Sem dúvidas o resultado ficou agradável.
- Eu não sei se essa teoria faz sentido, mas é interessante. - falou Feitinilda.
Passos soaram a frente do grupo e do meio das árvores vários cachorros de cristal se aproximaram preparados para atacar com afiados dentes à mostra. Das árvores, frutas voaram em direção a eles.
- Olha só que bacana, aqui tem até os mesmos cachorros selvagens e frutas flutuantes que tinham lá encima. - disse Rodolfo, antes de saltar e dar um golpe giratório que aniquilou as criaturas. - E elas continuam fracas.
Rodolfo sorria com sua própria habilidade. Pelo menos até metade da lâmina de sua espada se quebrar e cair no chão.
- ... eu quero ir embora agora.
- Eu também. - disse Florisbelo. - Apesar de impressionante, esse lugar é perigoso.
- Pare de ser medroso, garoto-árvore. - respondeu Feitinilda - Rodolfo é forte o bastante para nos manter seguros.
- Não sem uma espada. - retrucou Florisbelo, o que lhe rendeu mais um olhar de ódio da garota.
- Deve ter outro portal por aqui. - disse Windo - Vamos procurar um pouco.
E eles procuraram. Cutucando flores, subindo em árvores e acariciando cachorros selvagens de cristal, o grupo passou a próxima hora tentando sem sucesso encontrar algum portal antes de parar em uma clareira.
Feitinilda pegou uma flor de cristal e colocou em seus cabelos cor de rosa. Com um sorriso, virou-se para Rodolfo, que estava sentado em uma rocha no centro da clareira.
- Como eu estou?
- Normal. Aqui ta chato. - ele balançava as pernas, batendo com os pés na rocha.
- Esse lugar é tão triste e solitário. - disse Florisbelo, que estava sentado ao redor de algumas flores de cristal.
- Se esse lugar não fosse tão longe da superfície, eu usava uma corrente de ar ascendente para jogar vocês para fora. - disse Windo, que estivera sobrevoando a floresta.
- Não adianta de nada se a única saída vai dar bem na aldeia. - respondeu Florisbelo.
Impaciente, Rodolfo aumentou a velocidade com que batia os pés na rocha, o que a fez se irritar e se levantar, fazendo Rodolfo deslizar de cima dela, revelando que a rocha era um enorme urso de cristal que se encontrava adormecido. Florisbelo, Windo e Feitinilda correram para trás de Rodolfo, que nada fazia enquanto olhava para o urso, enquanto este se erguia imponente em suas duas pernas traseiras.
- Esse ai vocês enfrentam sozinho.
- O quê? Mas por quê? - perguntou Florisbelo, surpreso e assustado.
- Eu que não quero um monte de índio doido atrás de mim de novo. Fora que ainda to com dor de barriga do urso de ontem a noite.
- Não seja ridículo.
- O Rodolfo não é ridículo. - disse Feitinilda, seriamente.
- Rodolfo, a gente vai mo- e teve sua fala interrompida por um golpe do urso, que descia ferozmente sua garra em direção ao grupo. Os quatro se afastaram para os lados, fazendo com que a pata do urso se enfiasse no chão e cristais púrpura voassem neles. Florisbelo e Feitinilda ganharam alguns arranhões.
- Eu não tenho como lutar contra um bicho desses!
- Para de ser chorão, garoto-árvore! Você depende demais do Rodolfo. - dizendo isso, Feitinilda criou duas bolas de fogo em suas mãos e as atirou simultaneamente no urso, fazendo com que elas se juntassem no ar e formassem uma bola ainda maior. O urso não sofreu dano algum. - ...
O urso de cristal avançou atacando com as garras e dentes, fazendo o grupo recuar pulando para trás e para os lados enquanto o urso atingia por engano árvores e o chão. Windo voou para a lateral do urso e criou a corrente de ar mais forte que podia. O efeito foi nulo.
Após desviar de alguns ataques, Florisbelo percebeu que realmente Rodolfo não parecia disposto a ajudar e achou melhor fazer alguma coisa. Aproveitando um breve momento que o oponente se virava para Feitinilda, Florisbelo correu para trás do urso e apontou o braço para ele.
-
Trepadeiras!
Ao comando de Florisbelo, pequenas trepadeiras saíram do chão rachado pelos golpes e escalaram as patas traseiras do urso de cristal. Ainda sob o comando dele, as trepadeiras apertaram o cristal púrpura e puxaram as patas para trás com o intuito de derrubar o urso, que por sua vez se livrou do golpe com um breve movimento de seu corpo.
- Okay, isso era o máximo que eu podia fazer.
Feitinilda saltou para o lado de Florisbelo. Ambos estavam cansados, ofegantes e com cortes no corpo.
- Acho que está na hora de corrermos.
- Ainda não! - disse Windo, que pairava acima dos dois - Se colaborarmos nós podemos vencer.
- Talvez. - Feitinilda disse enquanto fazia uma careta - O garoto-árvore começa.
- Eu realmente espero que dê certo. - disse Florisbelo, que novamente apontou o seu braço direito para o urso que terminava de se virar para encarar o grupo. -
Trepadeiras!
Dessa vez mais rápidas do que nunca, as trepadeiras saíram das rachaduras e cobriram o corpo do urso de cristal, que se erguia imponente em suas duas patas traseiras antes de atacar mais uma vez.
-
Bola de Fogo! - Aproveitando a deixa, Feitinilda arremessou uma bola de fogo em direção ao peito do urso. Antes que o golpe pudesse atingi-lo, porém, ele foi desviado por uma corrente de ar feita por Windo. O espírito do vento girava cada vez mais rápido acima do urso, até que um tornado se formou com a criatura no centro.
-
Tornado!
O fogo se intensificou, as trepadeiras entraram em chama e em poucos segundos o urso de cristal era uma esfera incandescente de chamas. Alguns segundos depois o fogo se dissiparia, mostrando o urso intacto e bem mais quente do que antes.
- Bom, eu desisto. - disse Florisbelo.
Rodolfo salta e, com um golpe certeiro com a espada, atinge o pescoço do urso de cristal. A cabeça e o corpo caem para lados diferentes, sem mais se moverem.
- Fala sério, nem tava tão difícil assim.
Feitinilda se joga no pescoço de Rodolfo.
- Não somos tão fortes quanto você, bobinho.
- Você sabe que não sabemos lutar, Rodolfo! - disse Florisbelo, levemente exaltado.
- Desculpa. Eu fui ver se não tinha nenhum índio doido por ai. - Rodolfo olhou para sua espada, que se encontrava quase inteiramente rachada. Enquanto olhava, ela se quebrou em vários pedaços esfarelados. Ele jogou o cabo da espada para trás. - Que droga.
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Agora não tem mais como consertar. - pensava Feitinilda, decepcionada por não poder mais impressionar Rodolfo com um feitiço.
- Ah! - Rodolfo levantou o rosto, com um sorriso. - Eu encontrei uma coisa! Venham aqui!
Rodolfo se virou e começou a andar em uma direção específica. Seus companheiros o seguiram, curiosos. Ao chegar em um grupo fechado de árvores, ele simplesmente continuou andando e entrou por uma delas, desaparecendo. Logo depois, animados, seus companheiros o seguiram.
- Olha que coisa doida. - disse Rodolfo. Agora o grupo se encontrava em um corredor extenso, repleto de portas. Tudo continuava feito daquele estranho cristal púrpura.
- Parece que vamos ficar um bom tempo aqui ainda... - falou Florisbelo, após um suspiro.